Em evento para discutir infraestrutura, Ciesp destaca impactos negativos sobre dependência de transporte rodoviário de cargas no Brasil 

Em evento para discutir infraestrutura, Ciesp destaca impactos negativos sobre dependência de transporte rodoviário de cargas no Brasil 

Segundo ANTT, apenas 21% das cargas são transportadas por meio de ferrovias; dado deixa Brasil em desvantagem em relação a países de dimensões continentais, como China e EUA

O presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Rafael Cervone, disse na última segunda-feira (02), que a entidade enxerga no estado de São Paulo “o potencial e a responsabilidade para liderar” as transformações relacionadas à infraestrutura e transportes do país. A declaração foi dada durante o evento “Infraestrutura, Indústria e Concorrência: Caminhos para uma Política de Estado na Logística Nacional”, que aconteceu na capital paulista e foi promovido pela Diretoria Jurídica do Ciesp.

Cervone disse que o estado tem capacidade para buscar soluções inovadoras e colaborativas para superar os desafios e consolidar um modelo logístico mais eficiente e sustentável. Na sua opinião, a infraestrutura e a logística podem ser considerados os pilares fundamentais da competitividade. No caso dos transportes, por exemplo, a predominância do modal rodoviário em 65% dos transportes de carga do país eleva os custos por tonelada por quilômetro rodado e impactam na rentabilidade das empresas.  “A infraestrutura deficiente, com estradas, muitas vezes, mal conservadas e poucos investimentos em hidrovias e ferrovias, somada à dependência de grandes distâncias entre nossos centros industriais e os portos exportadores criam o famoso ‘custo Brasil’”, afirmou.

O Custo Brasil é a diferença entre o custo para montar e operar um negócio no Brasil em comparação com outros países. Na prática, o Custo Brasil é como uma espécie de taxa extra que as empresas brasileiras pagam para operar no país decorrente de uma série de problemas estruturais. Cervone lembrou que o Custo Brasil hoje é de R$ 1,7 trilhão a mais se comparado ao custo médio dos países da OCDE (Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico), segundo estudo do Movimento Brasil Competitivo em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e apoio do Boston Consulting Group.

Cervone destacou ainda que o transporte multimodal surge como uma solução imperativa, se for integrado de forma inteligente, visto que reduz custos logísticos, especialmente para longas distâncias, diminui o tempo de entrega, traz maior previsibilidade, causa menos impacto ambiental e descongestiona rodovias, melhorando a segurança e a fluidez do transporte.

Fretes caros e estradas sobrecarregadas

No primeiro painel, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Guilherme Theo Sampaio, explicou que hoje as ferrovias respondem por aproximadamente 21% das cargas, patamar ainda distante do ideal, quando comparado com países de dimensões continentais como os EUA e a China. A ANTT é a agência reguladora responsável por fiscalizar a regular as atividades de transporte terrestre no Brasil, incluindo o setor ferroviário.

Na mesma linha de Cervone, ele lembrou que a dependência de caminhões para longas distâncias eleva o custo do frete e sobrecarrega as estradas, resultando em ineficiência para o transporte de granéis. O Governo Federal colocou em andamento o Plano Nacional de Ferrovias, que busca ampliar a operação da malha ferroviária já existente e melhorar a infraestrutura. Inicialmente,o plano previa a concessão de cinco grandes projetos, mas o Ministério dos Transportes tem optado por anunciar os leilões de forma fatiada.

“De forma bastante distribuída, a gente tem ativos na região Sul, no Sudeste, subindo até o Nordeste com a Rota dos Sertões.A expansão também chega ao Norte do país, em Rondônia, indo até o Mato Grosso, com uma grande rota que vai buscar os grãos da região. São projetos bem orientados com a nossa logística, bem delimitada para o escoamento da nossa produção em eixos estratégicos para o país”, disse Sampaio.

Descontinuidade

O Diretor Jurídico do Ciesp, o advogado tributarista Helcio Honda, cuja área promoveu o evento, lembrou que o Brasil convive há décadas com o desafio crônico da descontinuidade. “Quando os governos mudam, as prioridades mudam, o que resulta em projetos engavetados ou abandonados e gera insegurança jurídica, comprometendo a atração de novos investimentos”, disse Honda Na sua avaliação, a adoção da infraestrutura como uma política de estado de longo prazo é um “compromisso inadiável”.

O advogado também citou que o Ciesp tem colaborado com as áreas de infraestrutura e transportes por meio de sua Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem. A ferramenta Dispute Board , que na prática significa a criação de um Comitê de Resolução de Disputas, foi destacada por Honda por ser um mecanismo preventivo e ágil para a resolução de conflitos geralmente utilizada em contratos de longa duração e alta complexidade, como obras de infraestrutura.

Concorrência e Concessões

O conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Victor Oliveira Fernandes, disse que o objetivo do órgão é “possibilitar um ambiente concorrencial saudável, onde haja igualdade de condições”. O Cade é considerado um dos pilares para assegurar que os investimentos em infraestrutura e transporte resultem em benefícios reais para a sociedade e atua na prevenção de abusos de poder econômico que possam comprometer o crescimento e a eficiência desses setores [infraestrutura e transporte], que são considerados vitais.

Segundo ele, os próprios competidores são os primeiros beneficiados da ação da autoridade antitruste, no caso o Cade, que tem o poder e a responsabilidade de garantir a livre concorrência nos mercados brasileiros. “Com uma competição justa, teremos melhores preços, maior capacidade de escolha por conta do consumidor e maior inovação no mercado”, disse Fernandes. Segundo ele, o Cade tem atuado no controle de estruturas, na análise de processos de inclusão e aquisição e no controle de condutas, que consiste na investigação de ilícitos, além da promoção da cultura em defesa da concorrência.

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