Pesquisa – Arte Popular por Diana  Oliveira

Pesquisa – Arte Popular por Diana Oliveira

Arte popular: A expressão “arte popular” desempenha um papel multifacetado na história e filosofia da arte, refletindo culturas locais e tradições com uma linguagem artística que frequentemente se distancia das convenções acadêmicas. Originada da vida comunitária e do cotidiano, a arte popular surge como um meio de expressão autêntica, revelando experiências e identidades de grupos específicos, além de proporcionar um forte vínculo com a modernidade e a experiência coletiva. Este relatório examina as principais características da arte popular e explora, especialmente, o trabalho da Cia Tempo de Brincar, que está em constante pesquisa sobre universo da infância e das tradições populares de todo o Brasil.

A arte popular é caracterizada como uma expressão cultural vinda das práticas e costumes das camadas sociais fora do circuito formal das artes. As características que se tornam singulares incluem:

Origem Comunitária: Criada por membros da comunidade, visa preservar e transmitir tradições locais, priorizando a colaboração e o compartilhamento de técnicas.

Materiais e Técnicas Tradicionais: Utiliza materiais e métodos locais, como cerâmicas, bordados e esculturas em madeira, refletindo a identidade cultural e as possibilidades do meio.

Temática Cotidiana e Simbólica: Representa temas religiosos, festivos, mitológicos e históricos, sendo uma forma de comunicar histórias ancestrais e valores coletivos.

Caráter Funcional: Inclui objetos que transcendem o valor estético, como cerâmicas e máscaras, que são usados ​​em rituais e festividades.

Simplicidade e Espontaneidade: A estética popular é acessível, com ênfase na sinceridade e na expressividade direta.

Cultura de massa: Na discussão sobre a cultura de massa, a replicação e distribuição das obras de arte tornaram-se temas centrais na filosofia da arte, especialmente à luz dos avanços tecnológicos e das mudanças sociais dos séculos XX e XXI. A divulgação da arte por meio dos veículos de comunicação modernos — como a televisão, a internet e as redes sociais — modifica as maneiras pelas quais as obras de arte são consumidas, replicadas e reinterpretadas. Essa questão foi amplamente discutida por filósofos como Walter Benjamin e Theodor Adorno, que ofereceram críticas fundamentais à forma como a cultura de massa vem afetando a percepção e a experiência estética.

Walter Benjamin e “Perda da Aura”: Em A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, Walter Benjamin discute como a reprodução em massa — por meio de técnicas como a fotografia e o cinema — dilui a “aura” da obra de arte, seu caráter único e autêntico. Para Benjamin, a arte reproduzida perde parte de sua conexão histórica e de seu vínculo com o espaço e o momento de criação. A cultura de massa, ao democratizar o acesso à arte, modifica a experiência estética, tornando-a menos imersiva e autêntica.

Theodor Adorno e a Indústria Cultural: Adorno, em Dialética do Esclarecimento, desenvolvido com Max Horkheimer, cunha o termo “indústria cultural” para descrever a comercialização e padronização da arte na cultura de massa. Para ele, essa indústria transforma a arte em mercadorias, eliminando sua função crítica e emancipadora, produzindo obras que acomodam os gostos do público, reafirmando valores dominantes e moldando o comportamento.

Jean Baudrillard e Simulacros: Jean Baudrillard, em Simulacros e Simulação, argumenta que a reprodução e a distribuição da arte na cultura de massa geram uma “hiper-realidade” onde a própria noção de desvantagens se dissolve. As obras e imagens tornam-se simulacros — cópias sem originais, experiências simuladas que substituem as experiências reais.

Guy Debord e a Sociedade do Espetáculo: Em A Sociedade do Espetáculo, Debord critica a sociedade moderna, na qual a arte e a cultura se reduzem a imagens projetadas para entreter e alienar o público, convertendo a experiência estética em entretenimento superficial e consolidando o poder social através de um consumo passivo.

A cultura de massa e seus processos de replicação e distribuição de obras de arte promovem acessibilidade, mas desafiam a preservação da profundidade estética. Na cultura de massa, a arte é ao mesmo tempo democratizada e vazia de singularidade, assumindo um papel de mercadorias consumíveis mais do que uma experiência crítica.

Exemplos de cultura popular

A Cia Tempo de Brincar é um exemplo significativo e representativo da riqueza da arte popular brasileira. Fundada em 2002, por Elaine Buzato, atriz e artista visual, e Valter Silva, músico e compositor, a companhia promove uma extensa pesquisa sobre o universo da infância e das tradições populares brasileiras. Unindo as artes cênicas, visuais, a música, o teatro de animação e o cinema, a companhia tornou-se referência na valorização e atualização das tradições culturais, dialogando com o imaginário infantil e a estética popular brasileira.

Ao longo de mais de duas décadas de atuação, a Cia Tempo de Brincar desenvolveu uma linguagem estética única e um trabalho artístico que engloba mais de 10 espetáculos cênicos-musicais, 6 CDs de canções autorais e histórias, e 2 DVDs com clipes e curtas-metragens. A companhia não apenas preserva tradições, mas também apresenta de maneira contemporânea, garantindo que o público infantil e adulto viva uma cultura popular de forma lúdica e acessível.

Os Fundadores e Suas Contribuições
Elaine Buzato, formada em Design pela UNESP e com uma ampla trajetória no teatro e dança brasileiras, é dramaturga, intérprete e responsável pela criação de bonecos, cenários e figurinos dos espetáculos. Suas influências vêm do teatro popular e dos ritmos nacionais, e sua pesquisa estética inclui o estilo naïf, com bonecos e adereços que recriam o universo folclórico de forma autêntica e cativante.

Valter Silva, músico e pesquisador da cultura popular desde a infância, é responsável pelas composições e pela interpretação com violão e viola caipira. Sua dedicação à música folclórica e ao resgate dos ritmos regionais culminou na criação de canções que dialogam com a poesia da natureza e as tradições populares, enriquecendo o repertório musical da Cia Tempo de Brincar e encantando diferentes gerações.

Trabalho Artístico e Repertório da Cia Tempo de Brincar
A companhia lançou diversas produções de grande relevância cultural, como os CDs Cafuné (2020) e Ciranda dos Orixás (2017), e os DVDs Varal de Memórias (2015) e Tempo de Brincar (2008) . Estas obras destacam o compromisso da companhia com a pesquisa e a reinvenção de canções e narrativas tradicionais, proporcionando às crianças uma experiência artística que educa e celebra a cultura brasileira. A poética da Cia Tempo de Brincar é um canal de transmissão cultural que nutre o imaginário das crianças com histórias e lendas tradicionais, fortalecendo a herança cultural por meio do lúdico.

Função Social e Cultural da Arte Popular e da Cia Tempo de Brincar
A arte popular, como produzida pela Cia Tempo de Brincar, cumpre várias funções essenciais para a comunidade:

  • Preservação da Memória e Identidade Cultural: Através das músicas, histórias e espetáculos, a companhia preserva e valoriza as tradições populares, garantindo que o legado cultural alcance e inspire novas gerações.
  • Resistência Cultural: A Cia Tempo de Brincar se posiciona como uma forma de resistência contra a padronização da cultura de massa, oferecendo conteúdos que respeitam e promovem a diversidade cultural brasileira.
  • Interatividade e Coletividade: Seus espetáculos frequentemente envolvem o público, promovendo a coesão social e a participação ativa da comunidade, em uma experiência artística e cultural completa.


A Cia Tempo de Brincar representa um exemplo vivo da importância da arte popular como um canal de transmissão cultural, que combina o lúdico com o didático para cultivar a memória e a identidade cultural brasileira. Por meio de seus espetáculos, músicas e produções audiovisuais, a companhia reafirma a relevância das tradições populares em um mundo globalizado, resgatando o valor da arte como expressão comunitária e indenitária.

A arte popular, assim como o trabalho da Cia Tempo de Brincar, transcende a função estética e se torna um pilar de resistência e preservação cultural.

Minha experiência com a arte

Tive a felicidade de ter contato com o teatro desde os quatorze anos, e essa experiência transformadora se estendeu por oito anos consecutivos. Durante esse período, participei de vários projetos culturais, que foram fundamentais para o meu desenvolvimento, em locais como o Sesi, a Oficina Cultural Grande Otelo e a Fundec. Essas instituições me permitiram explorar diferentes formas de expressão artística, e também proporcionaram contato com a mitologia grega. Entre as vivências mais marcantes, encenei duas peças clássicas: As Troianas e Antígona Pesquisas das Artes do Corpo, que aprofundaram minha compreensão da tragédia e do teatro como meio de reflexão social e existencial.

Após um intervalo dos palcos, retomei minha jornada artística com o grupo Tutu-Marambá, dedicada às pesquisas nas Artes do Corpo, e me envolvi com a dança contemporânea por dois anos com o Coletivo O12. Atualmente, estou explorando a música, buscando conciliar essa prática com trabalho e estudos, uma vez que acredito que a expressão artística amplia a consciência e enriquece minha trajetória pessoal e profissional.

É fundamental ressaltar a importância de investimentos para o setor cultural. Esses recursos não apenas possibilitam a continuidade e expansão de projetos que democratizam o acesso à cultura, como também sustentam o desenvolvimento artístico e pessoal de indivíduos em diversas fases da vida. Para jovens como eu fui, o acesso a projetos financiados e espaços de formação gratuitos é essencial, pois gera impactos duradouros e transforma vidas.

Referências: (abaixo, insira as referências utilizadas na elaboração do projeto, de acordo com as normas da ABNT) 

https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/208/o/fil_dialetica_esclarec.pdf

https://monoskop.org/images/c/c4/Baudrillard_Jean_Simulacros_e_simula%C3%A7%C3%A3o_1991.pdf

https://cultura.sorocaba.sp.gov.br/mapeamentocultural/descricao

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/literatura-cordel.htm

https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-967GU6/1/disserta__o_corrigida.pdf

https://www.marxists.org/portugues/debord/1967/11/sociedade.pdf

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